A ilha do Pico, toda ela é uma verdadeira estância de verão. Quem passar ao redor da ilha, são vários os sítios onde se encontram as antigas adegas que serviam, não somente para arrecadar os vinhos, como também para albergar os próprios vinhateiros nas épocas das podas, das cavas e das colheitas das uvas e fabrico dos vinhos. Esta era a mais demorada e a mais agradável pois, normalmente, as adegas situavam-se em sítios aprasíveis, de excelente e tonificante clima, onde apetecia estar. E ainda hoje isso, felizmente, acontece.
O escritor Manuel Greaves, em “Outras Histórias que ouvi”, obra póstuma, fala-nos d' “A Vileta das Cem Adegas”, dizendo o que era o lugar da Manhenha, há cem anos, onde existiam “cento e tantas adegas, frente ao mar, (e que) se elevam no rincão. Umas dez permancem habitadas todo o ano. As outras – só pelo verão adiante.”
Presentemente, a Manhenha é um subúrbio importante da Freguesia da Piedade. Não tem somente cem adegas, mas excelentes habitações, algumas delas construídas por emigrntes retornados e que não trouxeram só as plantas das suas habitações como até o próprio mobiliário. Hoje, a Manhenha é habitada por algumas dezenas ou talvez centenas de pessoas, possui um restaurante, tem um amplo e magnífico salão comunitário e continua a ser um lugar aprazível, com óptimas estradas a ligá-la à sede da freguesia, pelo norte e pelo sul, e igualmente à vizinha freguesia da Calheta.
Lá continua o Farol a iluminar os mares desta Ponta da Ilha, com S.Jorge ao lado e a Terceira ao fundo.
E como dizia o autor citado, “Umas centenas de turistas, todos os anos, visitam a Manhenha e o seu farol, que ilumina mais de vinte e cinco milhas de mar.
Ao lado fica a Engrade, outrora famosa pelos vinhos verdelhos que produzia e exportava, directamente, em barcas próprias para Petrógrado e a Baía.
E o mesmo à volta da ilha. Um pouco além da Manhenha e depois da Engrade fica o Calhau. E depois a Baixa da Ribeirinha. Atrás ficou a Calheta com as “Canadas” e toda a baía. A seguir à Calheta, as Ribeiras, com as Pontas Negras e o Caminho de Baixo.
E andando à volta da Ilha encontramos, além da Vila das Lajes, a Silveira, a primeira onde foi cultivada a vinha verdelho, iniciada pelo primeiro pároco da Ilha, Frei Pedro Gigante. Em tempos não muito longínquos, era o lugar de veraneio dos Lajenses, atraídos pela amenidade do clima e pelo belo panorama que de lá se desfruta. Apetecidas as uvas e as frutas que ali se produzem, além da magnífica “água da Fonte”, com características minero-medicinais.
Mas, como disse, em todo o Pico, principalmente junto das zonas costa, se cultivava a vinha, com óptimas produções.
Era assim e nalgumas ainda é, em São João, Terra do Pão e Prainha, São Mateus e Candelária. E aqui há que recordar o Guindaste onde, segundo a tradição, nasceu o Presidente Manuel Arriaga. Depois a Criação Velha, a Areia Larga, bastante procurada pelos faialenses, o Cachorro, o Lagido, os Arcos, o Cabrito, o Cais do Pico, a Prainha e Santo Amaro, para só a estes referir. Na Prainha em tempos recuados, era noltável a Baía de Canas com uma latada comunitária, cujas uvas eram colhidas, em dia aprazado, pelos respectivos co-proprietários.
O povo crente não dspensava a prática religiosa, mesmo que estivesse longe da igreja paroquial. E daí as numerosas ermidas que povoam todo o litoral, algumas de existência de vários séculos. É o caso da Manhenha, com a ermida de São Tomé, onde anualmente se celebra a festa de Nossa Senhora das Mercês. Recentemente, foi construida no Calhau a ermida da Senhora da Boa Viagem. Na Baixa da Ribeirinha, a ermida de S. Pedro. No caminho de Baixo das Ribeiras, a ermida da Boa Viagem. Em S. Mateus, a de Nossa Senhora da Conceição. Na Criação Velha, a ermida de S. Martinho. A de Nossa Senhora dos Milagres lá para os lados do Cachorro. E naturalmente outras mais.
Recordo apenas algumas, aquelas de que tenho conhecimento mais directo.
Voltamos à Manhenha. Novamente me reporto ao escritor e gentil homem que foi
Manuel Graeves: “O ar é ali puro, oxigenado. Revigora as almas e os corpos. Dali retiram com saúde quantos chegam, decaídos, das povoações vizinhas, onde viveram quase o ano debaixo das rochas altas e das nuvens baixas. Ali colhem energias novas, após um ou dois meses de estação, num ambiente saudável, leve, tonificante, cheio de sol explêndido. Parece que aquelas rochas emanam bálsamos a confundir-se com o oxigénio forte da estância.”
E acrescento: é assim em toda a ilha do Pico. Pois se, em certas zonas da Ilha, segundo verídica tradição, até as doenças graves se curavam!...
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